quinta-feira, 17 de maio de 2012

SOBRE A SAUDADE

Quando foi que a saudade passou a ser minha amiga?

Essa é uma pergunta que me acompanha há anos. Hoje, dentro do trem, à caminho de Pisa tive alguns insights sobre o assunto.
Acho que a saudade aproximou-se de mim, quando passei a dar mais importância às pessoas, às suas histórias, aos seus sonhos e perceber que suas decisões as levariam para longe, o que não é ruim, ao contrário, mas segundo Charlie Chaplin, algumas pessoas passam em nossas vidas e deixam um pedaço delas e levam um pedaço seu, para que nunca se esqueça do que vivenciou.

A saudade se aproximou de mim quando passei a enxergar o real valor dos amores, das amizades e da família.
Ví minhas irmãs crescerem, tornarem-se mulheres, casarem, terem seus filhos. Ví minha mãe, ser mãe, tornar-se viúva, virar avó, peguei meus sobrinhos recém-nascidos no colo... daí percebí que o tempo estava correndo, e bem mais rápido do que eu queria, senti então saudades da minha infância e das coisas que não vivi.

A saudade se fez presente quando conheci as obras de Bethânia, Chico Buarque, Fernando Pessoa, Sophia Andersen entre tantos outros que contavam amores e desamores e sem me conhecer conversavam comigo. Nunca alguém me entendeu tão bem!

Agora, olhando lá para fora, à caminho de Pisa, na Itália, me deu uma vontade de chorar, não de tristeza, mas de emoção porque tudo veio à minha mente, estou sentindo minha amiga saudade abraçar-me.

Sinto falta da presença, da voz, do cheiro de amigos, da minha casa, do meu cãozinho Thierry que morreu há mais de 1 ano.
Conheci a saudade, quando entreguei meu coração e não souberam o que fazer com ele. Daí percebí que já havia amado e sido amado, só não soube lidar com o tempo, então senti saudades dos meus vinte anos, quando um dia era o suficente para chorar por amor.

Estou feliz, vivendo um momento especial em minha vida, quero viver novas amizades, novos amores, quero cumplicidade para o nada, quero combinar mentiras inofensivas, quero discussões com finais ilários.
Olhando pela janela, vejo minha vida passar... A paisagem é um presente para um viajante, o calor brinda a saúde e o bom humor, bem diferente de Londres.
Quando comecei a escrever este texto, estava  embargado, com um nó na garganta... Agora sinto-me grato!
Discordo daqueles que dizem que não devemos olhar para trás, afirmo sem medo de errar. É bom olhar para trás e ver o quanto realizou, o quanto amou... O ruim e prejudicial é viver lá trás. Para mim, quem não gosta de visitar o passado não o construiu para ser lembrado, não o construiu para ser contado.
Para mim quem não gosta de visitar o passado é incapaz de sentir saudades e não merece o futuro.
Ah!!! Quando a saudade passou a ser minha amiga?
Foi exatamente quando decidí construir boas histórias para viver, lembrar e contar!

Marcelo Bergamini
Firenze - Pisa 12/May/2012

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